Resistindo a mania do Autoaperfeiçoamento

17/02/2023

Sempre que posso, após um delicioso café expresso com espuma de leite (meu "ritual"), eu dou uma passadinha na livraria do shopping para conferir as novas publicações. Poderia dizer que me surpreendi, mas sinceramente não é de hoje que, devido ao ritmo da nossa vida moderna acelerada e seus resultados (fadiga, ansiedade, depressão), a esmagadora quantidade de lançamentos sejam livros de autoajuda.

Alguns exemplos: Terapia Zen, Café com Filósofo, Budismo Rápido, Mindfulness instantâneo, Seja Foda (esse é foda..rs), Guarde um minuto para você, Yoga Express, Karma Milenar, e por ai vai...

Traduzindo: Preciso de uma terapia com um monge, mas somente por alguns minutos, para depois ir tomar um café com um filósofo. Terminando esse café eu pratico mindfulness, porque guardei um minutinho para mim, e termino repetindo a frase: Eu sou foda! Terminando eu faço uns 3 alongamentos e descubro que, sim, eu estou nessa situação por conta de algo que fiz.

Ufa quanta coisa não? Cansa até de escrever!

Não sei, mas me parece que atualmente existe uma necessidade rápida de querer sempre se autoaperfeiçoar. Nunca está bom, pois nunca estamos 100% felizes e nunca estamos 100% em paz conosco. E para isso mergulhamos de cabeça no "mantra da autoajuda", sempre pelo caminho rápido, fast, express..

Recentemente assisti uma palestra bem interessante do filósofo e psicólogo dinamarquês Svend Brinkmann. Ele argumenta que o segredo para uma vida mais feliz não está necessariamente em encontrar seu eu interior, mas em se reconciliar consigo mesmo para conviver pacificamente com os outros.

Não concordo integralmente com ele, pois entendo a necessidade de buscar nosso "eu interior" para uma vida mais plena, porém gostei bastante da questão de nos reconciliarmos conosco.

Talvez seja interessante desenvolver uma atitude de contentamento ( Santosha = termo do Yoga) com relação as nossas buscas e a nossa vida. Será mesmo que preciso adquirir todas as formas de livros sobre meditação para meditar? Não seria mais satisfatório simplesmente meditar?

Nossa mente é incessante. Não para. De acordo com Buda, "(...) a mente humana pode ser mais perigosa que cobras venenosas".

Nos aperfeiçoar é importante, necessário, desde que seja feito de forma consciente e saudável. Faz parte desse "autoaperfeiçoamento" perceber quando devemos parar de buscar e simplesmente se reconciliar com o que somos. Um "autoabraço" se faz necessário.